quarta-feira, janeiro 03, 2007

CUMPRIU-SE UMA ETAPA DA MINHA VIDA

Arménio Matias

Por se revelar para mim cada dia mais insuportável a situação em que permanecia na CP decidi rescindir com a Empresa que me acolheu, já lá vão mais de 35 anos, apesar de o fazer em condições pouco favoráveis.

Desde que saí da Administração da RAVE, em meados de 2001, que os sucessivos Conselhos de Gerência da CP me não atribuíram qualquer função ou tarefa. Em audiência que pedi para o efeito a cada um dos Presidentes, no início dos seus mandatos, sempre lhes comuniquei que estava ao serviço da CP e aceitaria assumir qualquer função que me fosse atribuída. No entanto, a minha actividade durante esses cinco anos e meio limitou-se à participação em 3 reuniões de Quadros da Empresa, uma convocada por Martins de Brito, outra por António Ramalho e outra por Cardoso dos Reis. De resto lá fui cumprindo, no essencial, o meu dever de assiduidade.

O ostracismo a que fui votado não constitui para mim qualquer complexo, pois a minha influência na evolução do sector ao longo de muitos anos prova que não foram critérios de competência ou de carácter técnico que o determinaram. Nos campos da política, da gestão e do associativismo, por que reparti a minha acção nas últimas décadas, acabei por ter um papel determinante nas mais profundas transformações que ocorreram no sector.

Desde miúdo que possuo condições naturais de liderança, tal como sempre consegui marcar as opções das equipas que fui integrando. Quanto mais inteligente era a personalidade que as liderava mais peso tinha o meu pensamento estratégico. Assim aconteceu com Helena Roseta, com Cavaco Silva, com Carvalho Carreira e com Manuel Moura.

Não sou um homem de partido. Tinha e mantenho uma má ideia de grande parte daqueles que desenvolvem uma intensa vida partidária. O maior estupor que se cruzou comigo na vida é tão só militante e financiador do PSD e amigo de infância do actual Presidente da República. Porém, um dia, quando um Grande Português lutava, num campo minado e num momento difícil da nossa História, por um projecto regenerador para Portugal, entendi ser meu dever indeclinável apoiá-lo. Foi por solidariedade com Sá Carneiro que optei. Mas há mais de uma década que não tenho nenhuma actividade partidária relevante, embora, ao longo de três décadas sempre tenha estado do mesmo lado da barricada que os actuais Dirigentes do PSD.

A minha matriz ideológica é de centro esquerda, tal como foi a de Sá Carneiro e a são de Cavaco Silva ou de José Sócrates. Mantenho simpatia pela direita nacionalista, em cujos ideais cresci, tenho respeito pela direita tradicionalista, mas combato a direita dos interesses ou orleanista, responsável, em conluio com os políticos medíocres que têm governado o País, pela situação a que chegámos. A direita orleanista aproximou-se do PCP durante o PREC, instalou-se no PS a seguir, e está hoje, em força, no PS e no PSD, constituindo a alavanca principal do bloco central de interesses que vem manietando o País.

Defensor de um sindicalismo livre e independente, logo que fundei a estrutura político laboral social-democrata na CP provoquei a completa alteração do panorama laboral na Empresa. Porém, há muito que a estrutura social-democrata no sector ferroviário não existe ou existe negativamente. Desde que fui eleito Deputado e, mais tarde, nomeado para o CG da CP, que estou desligado da sua acção. É certo que o Luciano Mourão e a Geny Veloso das Neves, há vários mandatos Presidentes de Junta de duas das mais importantes Freguesias da região de Lisboa, ainda tentaram manter o rumo, apoiados por gente de ideais como Luís Carlos Cruz e Campos Costa. Mas um influente Quadro do sector, que durante o PREC navegou pelas águas do PCP e posteriormente se transferiu para o PSD, castrou e mantém castrada a estrutura social-democrata. Neste campo nada de interessante se passa no sector a não ser o site do Sindefer, pese embora o carácter partidário de alguns comentários, que Francisco Fortunato alimenta e transformou numa fonte obrigatória de consulta e de influência positiva.

A minha experiência de vida, designadamente na gestão de Empresas dos transportes e telecomunicações, permite-me afirmar, sem equívocos, que o sector sempre dispôs de Quadros altamente qualificados, que não justificam a sua crescente colonização por Quadros do exterior, quantas vezes de competência duvidosa. Pela minha parte orgulho-me de nunca ter usado critérios distintos da capacidade e da competência na escolha dos recursos (internos!) para o exercício de altos cargos. Gente de todos os quadrantes ajudou a implementar e a preparar as profundas mudanças que impulsionei.

Sei bem que as nomenclaturas de poder, que progressivamente se vêm instalando no País e no sector, raramente têm em conta esses critérios. Muito mais preocupados em consolidar o Poder, em viabilizar as suas carreiras, do que em bem servir o interesse nacional, as opções vão por acções de fachada e por servos leais, cinzentos, subservientes e ignorantes, quantas vezes. Os Vitorinos que hoje povoam a hierarquia do sector, com surpresa minha que me habituara a ter outra ideia da actual Secretária de Estado, são a ilustração disso mesmo. Esta é a razão porque o sector quase não produziu no pós 25 de Abril Dirigentes da envergadura de Carvalho da Fonseca, Almeida e Castro, Cerveira, Themudo Barata, Óscar Amorim ou Duarte Silva.

Em muitas circunstâncias falei e escrevi sobre o que penso sobre o sector, designadamente no discurso de abertura do 6º Congresso promovido pela ADFER. O que era a ferrovia antes de 86, e o que passou a ser, é fácil de constatar. Só não tenho nada a ver com a opção, que sempre combati, pelo projecto de modernização da Linha do Norte e pelo abandono da AV.

Quando decidi sair da liderança da ADFER, como é sabido, uma facção do PS, entendeu ser chegada a hora de a domesticar. Comigo a ADFER foi sempre independente, inconformista, irreverente. Ninguém me poderá acusar de ter feito, com a ADFER, algum jogo partidário. O que eu fiz, neste âmbito, está bem descrito pelo novo Director da FER XXI, Eng. Gomes de Pina, no editorial do primeiro Número que publicou. Deixei a ADFER com uma Sede de prestígio e com recursos para sobreviver.
Este blog nasceu para, entre outros objectivos, criar condições para a regeneração do projecto da ADFER. Isso é forçoso que aconteça com o Eng.º Frederico ou sem ele. O 7º Congresso da ADFER foi, pela primeira vez, como que uma cerimónia religiosa repleta de hossanas ao Poder. Realizado alguns dias após a apresentação das chamadas «grandes Linhas de Orientação Estratégica para o Sector Ferroviário» que grande oportunidade perdida para defender a correcção de tanta coisa errada! Essa apresentação, e o documento que a suportam, constituem indubitavelmente uma excelente tese académica repleta de conceitos correctos. Porém, como muito bem sabe a Senhora Secretária de Estado, o desenho da nova rede de AV, particularmente nas regiões de Lisboa e mesmo do Porto, bem como as prioridades apontadas para a sua execução, foram profundamente afectadas pela monstruosa opção da OTA. Nem tudo se pode sacrificar a uma ambição, ainda que legítima. Os interesses do País têm que estar acima!

Talvez exista alguma amargura neste texto de epílogo. Mas o aspecto essencial que me atormenta relativamente ao nosso Sector é o Governo não ser capaz de corrigir essa miserável opção pela OTA. Tenho a ideia que todo o País esclarecido já compreendeu quanto essa opção é nefasta para o nosso futuro. Um dia o Senhor Primeiro-ministro também será capaz de compreender e então a esperança renascerá. Quanto ao resto, acredito que Cavaco Silva e José Sócrates não vacilarão na caminhada de recuperação que estão a tentar imprimir ao País. Para isso, mais cedo ou mais tarde, terão que mudar este estado de coisas.

21 Comments:

At 1/04/2007 6:03 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Estrámos para a CP quase ao mesmo tempo (eu antes) e saímos no mesmo dia. Tenho que reconhecer que o Arménio Matias, embora do outro lado da minha barricada, sempre se manteve íntegro e coerente. Não me esqueço, não me posso esquecer, que em 1975 me anunciou ao jantar,no modesto "Cu da Mula", que tinha aderido ao PPD decisão muito difícil para a altura. Aí se manteve e, só por isso, mas não só, merece a minha admiração. Além do mais gostamos ambos do site do SINDFER cuja acção tem sido importantíssima e julgo que, ambos, detestamos o tal comunista (que em 1975 se dizia fundamentalista) que passado pouco tempo estava no PPD/PSD e hoje, se calhar, no PS. Este último, como não podia deixar de ser num país como Portugal, tem tido uma carreira meteórica dentro da CP

 
At 1/04/2007 10:32 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Subscrevo:
- desta estirpe estão a desaparecer! Pese embora alguma discordância sindical consigo,nos idos de 83, ñ posso deixar de lhe desejar felicidades. PERDE O CAMINHO DE FERRO.
Bem haja, Armenio Matias.

 
At 1/05/2007 10:36 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Li com toda a atenção e merece-me sempre todo o respeito as opiniões livremente expressas como reflexo da liberdade de pensamento. Esta situação do Engº Armenio Matias fez-me recordar aquela outra tanto em voga " .... só quando chega a nossa vez é que nos lembramos do que podíamos ter feito e não fizemos e acabamos, também, por ser vitimas do sistema que engole todos os que não baixam a cabeça"

 
At 1/05/2007 12:48 da tarde, Anonymous Anónimo said...

A admiração e amizade que tenho pelo Eng Arménio Matias é imensa; a sua integridade, honestidade, coerência, e tantas mais qualidades tão difíceis de encontrar nos dirigentes do Portugal de hoje.... e a sua visão tão certa sobre o que deveria ser o desenvolvimento dos transportes em Portugal ...
Senhores dirigentes, mais uma vez deixaram escapar uma oportunidade de aproveitar os poucos recursos humanos que poderiam fazer toda a diferença neste pais. Senhores do “bloco central de interesses”: BASTA! Acho que chegou a altura de começar a ouvir os poucos Arménios Matias deste pais e começar a trabalhar para um único objectivo que se chama Portugal.
Obrigada Eng Arménio Matias, pela sua coragem, a sua luta e sobretudo pela esperança que me deu quando o conheci há pouco mais de 2 anos: que afinal existem ainda em Portugal Homens dignos de admiração.

 
At 1/05/2007 9:51 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Infelizmente, por razões óbvias, no "Estado Velho" em que vivemos, tenho de felicitar o eng. Arménio Matias pela sua frontalidade e verticalidade - bem expressas na sua carta e nos apoios que justamente suscitou.
Falta verdade, transparência, clareza, isenção, dignidade, valores na gestão da "coisa pública".
A má gestão, como bem se vê e confirma no "bloco de interesses instalados", é crime - punível com prisão. Como se corrige, denuncia com provas e se muda de caminho? A OTA? A ANA? As obras na Linha do Norte que não terminam e nem a CP consegue impor à Refer/Tutela um canal horário com menos 15 minutos? A invasão dos "boys" nas empresas, cuja grande capacidade profissional é o cartãozinho?
Não vamos lá, jamais lá iremos. A Espanha é que sabe...mesmo muito bem...

Boa sorte para o eng. Arménio Matias e que o seu exemplo possa servir para moralizar um tanto nada a geringonça ferroviária e dos senhores que a gerem.

 
At 1/06/2007 1:22 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Com a originalidade de escrever o seu próprio epitáfio, qual é o jogo que ainda quer fazer ao elogiar o site do Fortunato?

Tudo isto revela o seu carácter e a sua maneira de estar. Os "paraquedistas" são todos "oportunistas", verdade? Para si, claro! Deu jeito só ouvir quem quiz, onde o como quiz.

Depois da saída da RAVE, no mínimo sob uma ética financeira discutível, queria outra negociação gloriosa para sua gloriosa saída dum sistema que imaginou fechado, quase teocrático à volta do seu narcisimo. Tudo fez para isso.

Semeou, colheu!!!!
1/04/2007 4:22 PM

 
At 1/06/2007 1:25 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Da sua terra natal e arredores tem saído cada especimen digno de registo.

Veja o tal Cruzado, P. de Fonseca, que agora até saíu da REFER, com licença sem vencimento, para fazer concorrência ao accionista que lhe paga o ordenado! Brilhante!

E depois quer que sejam respeitados? Não pode. Safa-se o seu Irmão, valha-nos Cristo!
1/04/2007 4:31 PM

 
At 1/06/2007 1:36 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Todos mais ou menos nos apercebemos da realidade que está à nossa volta. Mas acontece que estamos tão envolvidos por tanta poluição que circula nessa mesma realidade, que por vezes perdemos a exacta noção do que esta tem de melhor, que nem sempre valorizamos como tal, ou do que tem de pior e não repudiamos com a indignação e firmeza com que o devíamos fazer.

A comunicação do Eng.º Arménio Matias, relata uma situação de isolamento que todos sabemos que existe no sector ferroviário, mas que nem sempre nos apercebemos da sua real dimensão, absurdo e crueldade. Como se justifica que se gastem milhões e milhões com consultores, em permanentes estudos de duvidosa utilidade e resultados que ninguém conhece, ao mesmo tempo que se silenciam por isolamento alguns dos melhores quadros internos das empresas?

E ao contrário do que muitas vezes se pensa, nem sempre são as razões de coloração político partidária que determinam quem é remetido para a prateleira. O caso de Arménio Matias é disso um exemplo bem ilustrativo. Pois, como se depreende do seu testemunho, foram sobretudo conselhos de administração nomeados por governos do seu próprio partido os que mais o remeteram ao isolamento. E não se julgue que foi, é, caso único.

 
At 1/06/2007 7:41 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Muito obrigado por tudo o que deu ao caminho de ferro português. Apesar de continuar a ser ferroviário (e não funcionário da CP ou REFER)há mais de 2 anos, é com tristeza que diáriamente vemos entrar na REFER pessoas do exterior para posições de chefia que vêm apeliadr de "Traves" as travesssas e que, os carris estão "inclinados para dentro"!!!!! em determinado PK!! Deus nos acuda! desta gente e bem haja por tudo.G.

 
At 1/07/2007 12:48 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Não gostei dos comentários: alguns foram embora; outros ficaram e a coisa continuam eternamente.

 
At 1/07/2007 10:28 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Reverentes, agradecidos e obrigados! Hipócritas também! São a "cultura ferroviária" no seu melhor! Senhores que sabem muito de carris e comboios mas sentados nos seus cadeirões e vencimentos confortáveis. Também imutáveis! Nada muda! Para quê? Estão tão bem!

Depois queixam-se dos políticos que levam em cima! Mas eles também foram, ou ainda são! Não se queixem dos políticos. Vocês adoram-nos! conseguem vender-lhes todas as tretas que querem nas inúmeras reuniões que o "sistema" provoca. Muitas! A ter tantas reuniões, não se pode trabalhar! Que stress!
Adeus Patinho das Neves, Rei do Entroncamento...e não só! Também já foste! Que rico Natal!Agora já podes aceitar ser o Supervisor Oficial da Transfesa? Verdade! Estás reformado!Agora podes fazer uma parceria com a tua Amiga do Entroncamento, aquela que falava em nome do Presidente do CG! A tal!

Os profissionais que pensam Empresa e trabalham são os vossos piores sustos. Mas ainda há alguns e a realidade é implacável. Pensem na liberalização!

 
At 1/09/2007 9:47 da tarde, Anonymous Anónimo said...

NAER: OTA X RIO FRIO

DN (1Ago 05) - extracto do suplemento Economia (Engº Arménio Matias, ADFER):

“Da comparação das quatro opções consideradas, conclui-se”:

Da análise global de um conjunto de aspectos objectivos, a melhor opção é Montijo B e a PIOR a Ota;
No aspecto operacional a melhor opção é o Rio Frio a e a PIOR a Ota;
Na perspectiva da engenharia a melhor é Montijo B e a PIOR a Ota;
No aspecto ambiental a melhor é Rio Frio e a pior é Montijo A;
Na perspectiva da acessibilidade a melhor é o Montijo A e B e a PIOR Rio Frio *;
No aspecto do esforço financeiro nas infra-estruturas e da própria TAP a melhor é Montijo B e a PIOR a Ota;
Na perspectiva da operação simultânea com a Portela e dos investimentos inerentes a melhor solução é o Montijo B e a PIOR a Ota.

Conclusões da ANA de 1994, esmagadoras para a decisão do governo** em 1988, que, com base no risco de colisão com aves, conduziu à precipitada escolha da Ota.

Obs minhas:
* Contariam já com a ponte Vasco da Gama? Junte-se-lhe uma nova ponte ferroviária para Lisboa (TGV).
**Informação pública da DECISÃO na TV: dois ministros, o da tutela, e a do ambiente, para lhes aumentar a coragem, reduzindo a responsabilidade!
Conhecendo eu bem a geografia da Ota (BA2) e do Montijo-Rio Frio (BA6), acompanho o Engº AM, quanto ao elefante branco e monstruidade da Ota - o país a caminho do abismo.
Apesar do negativo do antigo regime, bem mais sérios e honestos neste campo.

 
At 1/10/2007 1:39 da manhã, Blogger António Viriato said...

Caro Colega e agora Confrade da Blogosfera,

Li com respeito e com sentido solidário o seu depoimento. Infelizmente, hoje, deixou de ser insólita essa situação indigna que aqui tão bem descreveu. Ela encontra-se repetida por muito lado, sobretudo pelas Empresas de índole tecnológica que Portugal ainda detém. O desaforo de alguns, o conformismo de muitos, a indiferença de demasiados, a cobardia de imensos criaram as condições para que estas situações se multiplicassem. Até quando ? Até quando quisermos, não todos, mas simplesmente a maioria.
Se posso saúdá-lo de alguma forma, desejo-lhe boa sorte e exorto-o a que não desista de lutar pela dignidade de todos nós.
Um seu colega, que entende muito bem toda a sua mágoa.

 
At 1/10/2007 4:28 da manhã, Blogger Mário da Silva said...

Gaita! 3.500 € para não fazer nada e só se arrependeu e teve rebates de consciência ao fim de seis anos.

Desculpem se me custa a entrar na vossa onda louvaminheira.

Até mais.

 
At 1/11/2007 1:36 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Enquanto frequentador assíduo (por obrigação e porque não tenho dinheiro para alimentar viatura própria), pelo menos fico a saber onde é em parte "enterrado" o dinheiro que a CP me cobra por um serviço terceiro-mundista.

A sua decisão de abanonar a empresa radica em pressupostos lamentáveis, pois todos temos direito ao trabalho. Tão lamentável quanto o atraso de seis anos nessa decisão. Explique-se: porque saiu só agora? Que mais devem os utentes da ferrovia e, de modo geral, todos os contribuintes portuguesas, saber sobre o "polvo" da CP? Ass: assíduo passageiro da CP.

 
At 1/11/2007 8:24 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Nós por cá ... na hora da despedida

O ano de 2006 foi fértil em rescisões amigáveis, no meio ferroviário.

Alguns dos que se retiraram foram (são) referências por aquilo que fizeram, pelo saber passado às gerações seguintes e pela forma digna assumida na despedida da vida profissional, ou como hoje se costuma dizer : "low profile".

Fica-nos a sua lição: Honrados no trabalho.

Para alguns a hora de despedida foi serena, cumpriu-se mais uma etapa, desligou-se o computador pela última vez, um abraço aos camaradas de muitos anos e a promessa de que um dia destes vamos todos almoçar ...

Para outros, cuja opção de saída foi unicamente sua, saem e largam o azedume contido em pressão ao longo dos anos. Escrevem no exercício daquilo que caracteriza (pela negativa) a comadrice lusitana, auto elogiam-se, predizem a ruína e o colapso rápido das instituições de que se serviram ao longo da sua passagem, exercitam o ódio e a maledicência. Desbaratam deste modo algum pouco crédito que ainda amealharam, numa ou outra iniciativa que se lhes conhece, numa atitude que se poderia classificar de colocar em "bicos dos pés".

Estes colocam-se na pele tão ao gosto do médio oriente, para serem recordados como os mártires do sistema, talvez almejando o paraíso e as suas 200 virgens.

 
At 1/11/2007 6:24 da tarde, Anonymous Anónimo said...

A CP estaria bem melhor se a maioria dos seus quadros superiores ( e todos os que tem natural aptidão para mandar no que não é deles) estivessem 6 anos sem fazer nada. Eu que sou um ferrobico a que ninguém dá valor, se me baldo umas horas, já dão pela minha falta. Á! Mas há uma diferença, eu nunca limpei 3.500 € e nas greves era a mim que chamavam chulo!

 
At 1/14/2007 9:16 da tarde, Anonymous Anónimo said...

As recentes notícias na imprensa levaram-me a descobrir este blog.
Fui colega do Arménio durante todo o Liceu. A Universidade afastou-nos. Vi-o, pela última vez, já lá vão vinte anos, quando era Deputado eleito pela Guarda.
Aluno brilhante, permanentemente no quadro de honra, do 1º ao 7º ano, sempre o melhor aluno da turma e um dos melhores alunos do Liceu, era ao mesmo tempo humilde e altruísta, despertando a nossa estima.
Militante católico repartia o seu tempo pela JEC (Juventude Católica), pela LIAM (Acção Missionária) e pela Conferência de S. Vicente de Paulo, das quais, mal chegava, logo se tornava Dirigente.
Quando frequentávamos o 4º ano o Reitor do Liceu chamou-o várias vezes ao Gabinete para o convencer a ingressar nos quadros da Mocidade. Recordo-me das suas dúvidas e das suas hesitações, mas perante tanto empenho, lá aceitou e em breve se tornaria no principal dirigente dessa organização no Liceu.
Lembro-me de, no fim do Liceu, ter sido escolhido para frequentar um curso de verão em Lisboa e, tendo sido classificado nos primeiros lugares, ter sido premiado com uma viagem a Moçambique.
Muitas vezes o vi na feira ao lado do Pai, sem complexos, vendendo alfaias agrícolas.
Acompanhei de longe o seu curso de engenharia, mas fui sabendo que, apesar de não ter dispendido mais um centavo à família, continuava, apesar das privações, a ser um bom aluno.
Recordo acima de tudo a sua personalidade firme e integra que procura um rumo e o segue sem vacilações. Estava na forja a formação de um beirão do tipo «antes quebrar que torcer» que todos nós acreditávamos que poderia ir longe.
Compreendo bem a revolta e o inconformismo que a situação indigna de marginalização dos últimos anos, de desperdício para o País e de desrespeito pelo seu valor, lhe provocou.
Só políticos e gestores medíocres poderiam cometer tal negligência e maldade.
Para ti, Arménio, vai um abraço solidário.
A.P.

 
At 1/15/2007 12:41 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Fiquei muito admirado com a notícia do «Publico» da saída do Senhor Eng. Matias da CP.
Reformado há alguns anos da CP tive o privilégio de trabalhar com os Senhores Engenheiros Matias e Aparício, entre outros, na função comercial.
Nas minhas mais de 4 décadas ao serviço da CP nunca se assistira a transformação tão profunda e de tanta repercussão.
Em tempos, antes do 25 de Abril, a CP tivera um jovem Administrador, Dr. Sequeira Braga, que suscitara muita esperança entre os ferroviários mais esclarecidos, e que a morte precoce interrompeu. Só com o Eng. Matias a inovação na gestão da CP voltou.
Lembram-se do que era o serviço antes de 1986 quando ele chegou à Administração da CP?
Vagão difuso, tráfego de detalhe, comboios correio, ónibus, semidirectos, serviços degradados ao longo de 3600 km de linhas-férreas onde quase se não faziam investimentos!
Com o apoio do Governo, com o seu espírito empreendor e a sua visão estratégica e com a colaboração entusiasta de muitos de nós, muito mudou. Criaram-se os serviços alfa, intercidades e interregional. Apostou-se no comboio bloco e numa rede de terminais multimodais e de ramais particulares. Acabou-se com o detalhe e lançaram-se as bases da Tex. Fecharam-se centenas de km de vias-férreas muito deficitárias. Sob a sua orientação preparou-se o Plano de Modernização Ferroviária que o Governo aprovou e que contempla quase tudo o que de facto se fez na ferrovia nas últimas 2 décadas. Lançou as bases para a construção de uma nova rede de alta velocidade.
Ao contrário de tantos que passaram pela administração da nossa Empresa sem deixar rasto Vª Exª marcou uma época e será sempre motivo de orgulho para muitos de nós.

 
At 1/26/2007 8:06 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Fico com verdadeira satisfaçao em ler muito do que foi aqui dito... Era bom que todos lutassem para que
os caminhos de ferro nao estivessem como estao! estes ultimos anos como utilizador, vejo que pouco mudou., depois nao admira o atraso em relaçao a europa !
Um abraço e felicidades para o futuro!

Rui M.

 
At 2/26/2014 1:51 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Pois, sr Engº Matias, só agora descobri este blogue e confesso que fiquei admirado. Bem, compreendo a sua frustração pela maneira como saiu da empresa, não tenho a certeza se foi pelo processo da "situação B"" em que o funcionário era encostado numa sala em que não lhe davam nada para fazer à espera que o mesmo ""estoirasse"" e tomasse uma posição de saída ou outra. Conheci-o pessoalmente e confesso que o admirava, mas o sr. por si só não podia fazer nada contra uma máquina que estava instalada e que no fundo dominava tudo. Comecei a perceber isso. Concerteza que sabe o que criou os ""podres na empresa""sobretudo financeiros.Para si uma boa reforma, tal como desejo para mim. Ex- ferrovia.

 

Enviar um comentário

<< Home