terça-feira, março 07, 2006

A NOVA ESTAÇÃO CENTRAL DE LISBOA: A Lógica e os Interesses

A escolha da futura estação central de Lisboa (ECL) para os comboios de Alta Velocidade (AV), e não só, é simples e óbvia para todos aqueles que têm alguma noção de política de transportes. Que interesses impedem os sucessivos Dirigentes de ver claro?

Há um século e meio a opção tomada quanto à localização da nova estação ferroviária não foi pacífica. A escolha do Cais dos Soldados (Santa Apolónia) esteve estreitamente relacionada com os modos de transporte então existentes e que o comboio ia substituir ou colmatar, isto é os Vapores entre o Cais das Colunas e a Azambuja, continuados para Norte pelas Diligências, e pelos Vapores que faziam a travessia do Tejo rumo a Sul. A tese dos mais conceituados especialistas da Época era pela localização em Arroios (hoje Praça do Chile / Alameda).

Essa imperfeita opção fez com que duas décadas depois se construísse uma nova estação central no Rossio, que cedo se revelou exígua. Há longas décadas que os mais antigos quadros ferroviários planeiam a criação de uma nova ECL na zona do Rego, associada à reactivação da Linha da Cintura. Enquanto a Linha de Cintura, a partir das primeiras opções do Conselho da CP na 2ª metade da década de 80 e do impulso criador do Eng. Castanheira Lourenço, aliás sempre continuado por sucessivos Governos e Conselhos da CP e da Refer, se transformou num eixo fundamental do sistema de transportes da AML, o espaço disponível no Rego revelou-se cada vez mais exíguo e com piores acessibilidades.

Quando nos finais da década de 80 se fizeram os primeiros estudos sobre a nova rede de AV a localização da ECL escolhida, em diálogo com a CM de Lisboa, foi Chelas.

A ECL, no futuro o mais importante Nó de todo o sistema de transportes da AML, tem que dispor de excelentes acessibilidades, quer do transporte público, quer do transporte particular, tanto ferroviárias, como de metropolitano, como rodoviárias. A maior relevância deve ser dada à acessibilidade ferroviária suburbana e de metro. A Linha de Cintura é, ou poderá ser, o eixo de chegada ou de passagem da generalidade dos comboios suburbanos de Lisboa (da Fertágus, de Sintra, da Azambuja, de Cascais – possível, do futuro eixo Caldas, Malveira, Loures – um dia), salvo alguns que mantenham como destino as velhas estações de Santa Apolónia, Barreiro, Cais do Sodré ou Rossio. Em articulação com a Linha de Cintura se deveria, pois, situar a nova ECL, o mais próximo possível do coração de Lisboa/ AML: Sete Rios, Rego / Entrecampos, Roma / Areeiro, Chelas / Olaias… O Metropolitano de Lisboa tem em construção uma verdadeira linha de cintura da sua rede – a Linha Vermelha, no futuro a linha de melhor acessibilidade. Acontece que essa linha cruza a Linha ferroviária de Cintura em Olaias.

Os eixos rodoviários construídos em correlação com a EXPO podem proporcionar à zona de Chelas / Olaias uma boa acessibilidade rodoviária. Entre a Av. Gago Coutinho e o Vale de Chelas existe espaço suficiente para edificar a ECL, podendo a infra-estrutura ferroviária ser feita em diferentes andares como sucede noutras capitais (Madrid, por exemplo). Haveria enormes vantagens em transformar a ECL em estação de O/D da generalidade dos comboios de longo curso da rede de bitola ibérica. Haveria ainda a possibilidade de prolongar a linha de AV até à Portela permitindo que os principais comboios se iniciassem ou terminassem no Aeroporto, como sucede por exemplo em Génève / Cornavan.

Os encargos com a construção da nova ECL poderão ser suportados pela iniciativa privada. Sendo a futura ECL a zona com melhor acessibilidade de toda a AML, todos os espaços comerciais, de escritórios e de habitação, aí situados, serão valiosíssimos. Se o Estado decidir concessionar os espaços superiores e inferiores à infra-estrutura ferroviária angariará recursos suficientes para todo o empreendimento.
Porquê continuar a analisar outras localizações? Ou será apenas para pressionar a desactivação e a urbanização da Portela e consumar o desastre da OTA, como também está a suceder com a urbanização prevista para Rio Frio? De quanto tempo mais vai precisar o Senhor Primeiro-ministro para compreender que a OTA não serve o interesse nacional?