quarta-feira, abril 26, 2006

A TRAVESSIA FERROVIÁRIA DO TEJO

Com as recentes declarações da Senhora Secretária de Estado dos Transportes sobre a provável criação na Margem Sul do Tejo de uma grande plataforma logística (PL), bem articulada com os portos do Sul, e a concomitante informação do Senhor Presidente do porto de Lisboa de que está a ser considerado o desenvolvimento do lado Sul do porto que dirige, designadamente no Barreiro e na zona de águas profundas da Trafaria, começa a ganhar contornos um dos elementos fundamentais do sistema nacional de transportes, mormente na AML.

Em trabalho já incerto neste blog se demonstra a inevitabilidade, quase consensual aliás, da localização da nova Estação Central de Lisboa (ECL) no vale de Chelas/Olaias.

É elementar compreender que o acesso a Lisboa dos futuros comboios de alta velocidade e bitola europeia (AV/BE) se deve fazer por um único itinerário, face ao elevado montante do investimento, qualquer que seja o traçado. O acesso pelo Barreiro, atravessando o estuário do Tejo, por ser excessivamente para Sul, prejudica a ligação ao Centro e ao Norte do País. O acesso pela margem direita do Tejo prejudica as ligações a Madrid e ao Sul do País. A solução mais vantajosa, sempre preconizada ao longo de 150 anos de história ferroviária, é a que considera a travessia do Tejo pela Península do Montijo. É aí que o estuário do Tejo, a montante de Cacilhas, se estreita mais e, situando-se a referida península no paralelo de Lisboa, a respectiva travessia servirá equilibradamente as três relações.

Como é sabido na sequência da escolha da localização da Ponte Vasco da Gama (acertada, aliás, por ficar na continuidade da CRIL), para esboroar a contestação o então Ministro das Obras Públicas anunciou que um dia se faria outra ponte pelo Barreiro decretando a reserva do espaço canal. Com os anos essa solução foi ganhando raízes embora dificilmente resista a uma boa análise sobre o futuro sistema de transportes.

Uma outra questão relacionada é a do Novo Aeroporto de Lisboa (NAL). O País está cada dia mais consciente do absurdo da escolha da localização na OTA. Porque não existirá um único Quadro português reconhecidamente qualificado no domínio do transporte aéreo que concorde com essa opção? Porque afirma o mais conceituado especialista português em matéria de aeroportos que se o País tentasse escolher a pior solução para um NAL a escolha recairia sobre a OTA? A Margem Sul do Tejo, como já reconheceu o primeiro estudo técnico realizado, oferece as melhores opções. O Campo de Tiro de Alcochete, um território plano com cerca de sete mil hectares, propriedade do Estado, já fora dos principais fluxos migratórios das aves que vitimaram o Rio Frio, situado a cerca de metade da distância da OTA ao centro de Lisboa, oferece condições ímpares para a localização do NAL. E oferece ainda potencialidades de expansão imensas ao NAL! E território disponível para reinstalar o Campo de Tiro, se ele for ainda necessário, é o que não faltará!

Como é evidente se o NAL se justapuser ao nó ferroviário da nova rede de AV/BE, isto é se os novos comboios de ligação de Lisboa com Madrid, com o Porto e com o Algarve servirem o NAL, que modelo perfeito estamos a criar para o nosso sistema de transportes! E claro que a futura PL deve ser articulada com esse nó ferroviário e com o NAL.

A travessia ferroviária do Tejo, seja em túnel, seja em ponte, pode ser exclusiva de passageiros, o que permite pendentes até 40 m/km, e dispor de uma única via dupla de bitola europeia. Nesse troço entre Chelas/Olaias e Alcochete os comboios de AV, os suburbanos até ao Pinhal Novo e a Navette com o NAL podem circular a uma velocidade homogénea da ordem dos 150 km/h, permitindo, além do mais, que, se a travessia se fizer em túnel, este possa ser de secção simples. Essa via dupla de AV/BE terá uma capacidade máxima de 20 circulações por hora e por sentido, não sendo previsível que a procura se situe, nas primeiras décadas do seu funcionamento, acima de metade dessa capacidade.

A nova rede de AV/BE, para lá do referido nó, deve ser apta para tráfego misto para assim dar curso ao tráfego de mercadorias que tem como elemento estruturante a PL. Todavia a distribuição local das mercadorias a partir da PL deverá ser feita por via rodoviária com recurso à Ponte Vasco da Gama, à CRIL e à CREL.

Portugal tem, na região de Lisboa, condições raras, para poder dispor de um harmonioso e eficaz sistema de logística e de transportes, capaz de servir a sua economia e de ser o suporte à sua competitividade e ao seu desenvolvimento. Assim saibam os seus Dirigentes libertar-se das ideias fixas e das teias de interesses que os tentam condicionar!

2 Comments:

At 4/27/2006 7:27 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Um bom contributo

 
At 4/27/2006 7:57 da manhã, Anonymous Anónimo said...

o grande empecilho para o caminho são os politicos; veja-se o passado, o presente e o que se vislumbra para o futuro.

 

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