quarta-feira, março 29, 2006

NA IMINÊNCIA DE UM GRAVE ERRO

A REFER pôs a concurso o estudo da directíssima Sines – Badajoz, uma linha para mercadorias congénita do famigerado T exclusivo de passageiros.

No início do seu mandato a Senhora Secretária de Estado dos Transportes anunciara que mandara suspender o processo dessa nova linha, o que pareceu um acto de lucidez e coragem face à lógica dos interesses que vem condicionando muitos dos investimentos em Portugal.

A partir do momento em que Portugal assumiu (?) que as duas principais novas ligações ferroviárias internacionais, a nascente, são de tráfego misto, tornava-se imperioso que o projecto Sines – Badajoz fosse reponderado com rigor.

Se os parâmetros da nova linha Lisboa – Madrid forem idênticos aos da nova linha Barcelona – Perpignan (velocidade máxima de 350 km/h e mínima de 120 km/h, respectivamente para comboios de passageiros e para comboios de mercadorias e carga máxima por eixo de 17 toneladas) isso significa, tendo em atenção o PEIT espanhol, que, num horizonte próximo, a nova linha será o itinerário natural das mercadorias entre o Sul de Portugal e a Espanha. Ou está demonstrado que esse eixo não tem capacidade para tanta procura de passageiros e de mercadorias?

Subsistem duas questões por equacionar: Como actuar no curto prazo? Como transportar as mercadorias com cargas por eixo superiores?

A RCM 6/88 dava a resposta a essas questões. A linha Sines – Ermidas, por ser uma linha de montanha, não tem condições para servir o porto de Sines. Por isso tem todo o sentido que se aposte num itinerário, parcialmente novo, Sines – Poceirão, em via dupla electrificada e travessa bibitola, inicialmente em bitola ibérica, pelo menos numa das vias. Ou seja que se construam os novos troços Sines – Norte de Gândola e variante de Alcácer. E que se dê prioridade à construção do troço Évora – Elvas da nova linha Lisboa – Madrid, com uma via simples em bitola europeia e outra em travessa bibitola e bitola ibérica. Ou está inequivocamente demonstrado que, no curto prazo, esta solução não tem capacidade para tanta procura? E que se electrifique o troço da linha actual entre Vendas Novas e Casa Branca, necessária, aliás, no contexto do novo sistema ferroviário.

A generalidade das mercadorias contentorizadas satisfará aos parâmetros de 17 t/eixo, mas sempre será mais barato parametrizar o troço Évora – Badajoz para cargas mais pesadas (a nova rede italiana tem 25 t/eixo). Para quê então investir na nova linha Variante de Alcácer – Casa Branca? Para reduzir uns 60 km na ligação de mercadorias Sines – Badajoz? Quando se sabe que no interior da Espanha essa linha de mercadorias, via Puertollano, Ciudad Real e Alcazar de S. Juan, tem mais uns 160 km do que a nova linha via Cáceres. E quando se anuncia que a nova linha de mercadorias ficará pronta apenas um ano depois da nova linha Lisboa – Madrid menos sentido faz a opção anunciada.

Depois do erro estratégico cometido com a modernização da linha do Norte e com tantos outros investimentos sem critério nem horizonte feitos no sistema ferroviário português esperava-se maior rigor dos actuais governantes e dirigentes do sector. Quando entrámos na EU, em termos ferroviários, nós estávamos ao nível da Espanha. O País devia reflectir sobre o que se passou entretanto para hoje estarmos tão atrasados do País vizinho. E até recebemos um volume de apoios comunitários de quase metade do que terá recebido a Espanha!
AM