segunda-feira, março 20, 2006

O capital a quem o produz

Caros leitores, estimados companheiros de profissão

Sendo “A terra a quem a trabalha” o grande slogan marxista/leninista do Século XX inspirado na ditadura do proletariado, proponho que pensemos no novo lema social do Século XXI – “O capital a quem o produz”, como ponto de partida para uma sociedade mais unida, em que a riqueza é mais e melhor distribuída, em que o risco é menor e repartido e onde teremos uma democracia financiada por uma imensa maioria.

Se nos centrarmos na realidade europeia e americana, veremos que os sindicatos sérios, bem geridos e que representam os interesses comuns e não só de alguns com maior ou menor poder reivindicativo, são detentores da maioria do capital de grandes empresas – a título de exemplo detêm 80% do gigante alemão Volkswagen, porque constroem Fundos de Pensões poderosíssimos. Do outro lado do Atlântico, o Fundo de Pensões da GM vale mais que a própria empresa. Assim, são chamados quer às Assembleias Gerais de Accionistas, como têm representantes nos diversos conselhos de administração, trazendo um espírito agregador à decisão, que responsabiliza e envolve todos aqueles que constituem a alma das organizações.
Penso que este conceito poderá fazer evoluir muito as relações trabalhador/patronato, dado que o trabalhador passa a deter – em conjunto, uma parcela significativa do capital e começa a assumir-se como parte integrante da empresa, podendo deslocar a sua poupança para onde quiser.

No contexto de falência futura da Segurança Social, dado o envelhecimento da população e as rescisões por mútuo acordo aos 55 anos, o papel dos sindicatos e da sociedade civil deve passar pela constituição de Fundos de Pensões para complementos de reforma mistos, que assegurem uma reforma condigna e que despoletem uma maior intervenção de todos, nos assuntos que lhe são particularmente importantes.

Esta tremenda apatia em que se vive, causada primeiro por uma descolonização traumática e por uma eterna e desmoralizadora acção de líderes que nunca tiveram qualidades, competências e valores para servir a comunidade, antes servindo-se, acompanhado de uma cultura de aguentar a cruz, torna os Portugueses dos maiores consumidores de anti-depressivos da Europa, antagonicamente agraciado com uma das mais belas naturezas, quer em clima, quer em paisagem.

Com é do conhecimento de todos, o nosso nobre povo não toma - por norma, iniciativas que conduzam ao conhecimento dos seus deveres e à defesa dos seus direitos, pelo que após aturada reflexão penso que esta não será uma das vias, é mesmo a única via que nos conduzirá a projectos de cidadania em torno de associações, de sindicatos, comissões de trabalhadores, ou mesmo clubes, numa óptica de rentabilização de poupanças privilegiando os interesses comunitários e não individuais ou sectoriais.

Vejo com enorme regozijo que o Governo está a pensar neste assunto a sério, o Conselho de Gerência da CP já tem ao seu dispor desde 2004 algumas propostas concretas da SGF – Sociedade Gestora de Fundos de Pensões – líder de mercado, apresentadas por um Sindicato de Quadros, pelo que a “portabilidade” da poupança e a vontade política já não serão entraves. A venda de algum património seria um início promissor para a criação de um Fundo Comum, anexado às contribuições individuais de cada Colaborador.

Luís Miguel Gagliardini Graça