sexta-feira, março 10, 2006

AS GRANDES ALMAS E AS ALMAS NEGRAS

Infelizmente para o País o trágico absurdo a que alude o título deste texto não é exclusivo do sector dos Transportes. Faz parte do estado de degradação geral para o qual os Políticos têm conduzido o País, numa caminhada sem rigor nem estratégia que nos deixa cada dia mais distantes do progresso imparável da Espanha.

Nas últimas duas décadas o nosso sector tem sofrido profundas reestruturações que o poderiam ter conduzido à viabilidade e à credibilidade. A criação das Empresas afiliadas foi uma dessas medidas. A gestão que os Governos impuseram ao sector, incluindo a essas novas Empresas, deu o resultado que está à vista.

Toda a gente conhece a grande alma que deu projecção à Ferbritas! Toda a gente sabe quem foi a grande alma que edificou e prestigiou a EMEF! Toda a gente sabe quem foi a grande alma que concebeu e consolidou a Fernave! Toda a gente sabe quem foi a grande alma que impulsionou o Plano de modernização dos caminhos de ferro e a mudança profunda dos serviços, sem a qual ainda viveríamos na época dos tranvias, dos semidirectos, dos onibus, do detalhe e do vagão difuso, em 3600km de rede. Toda a gente sabe quem foi a grande alma que impulsionou as unidades de negócios e conferiu maior sentido empresarial à gestão.

Entretanto as grandes almas deram lugar às almas negras. Profissionais com provas dadas no sector foram substituídos por amigos dos políticos e dos governantes, transformando a gestão das empresas do sector em locais de emprego para toda a casta de protegidos e apaniguados. Homens da mala uns, simples serviçais outros. Os perigosos homens da mala, angariadores (também) de financiamento partidário, são colocados estrategicamente em todas as empresas que realizam grandes investimentos públicos. A técnica é conhecida: ou o processo de angariação é desenvolvido enquanto se desenvolve o concurso tornando-se o financiamento como uma compensação por um favorecimento da proposta que se faz vencedora; ou se faz depois do processo de decisão técnico apurar o vencedor. Neste caso a decisão final torna-se dependente do aval duma entidade superior que demora semanas ou meses até que o financiamento se consuma. Os recursos públicos desbaratados nestes processos ínvios são incomensuráveis. Os homens da mala, esses, entre outras vantagens, têm carreiras de gestão estáveis e ascendentes. Não esquecer que as máquinas partidárias não conseguem controlar a angariação de fundos, nomeadamente em plena campanha eleitoral!

Mas falar dos exemplos concretos dos gestores, que nos conduziram à ruína, para quê? Não teria é que ser assim! Isto não é uma fatalidade! É obra de políticos e governantes desconhecedores e mal formados! Olhemos, por instantes, por exemplo, para o interior da EMEF. Como é fácil ver no seu seio uma dúzia de quadros com nível e qualificação incomparavelmente superiores aos afilhados do Poder que têm gerido e arruinado essa empresa. Por quanto tempo mais vai o País aguentar esta gestão fatal ou é necessário correr para a falência total como parece ser o rumo da Fernave?

O lugar das almas negras não é neste sector. O seu divinal destino é outro.