quinta-feira, junho 01, 2006

Mais coerência precisa-se!!!

O Eng. Luís Coimbra falou sobre a Ota na última Sessão da ADFER e disse NIM. Veja o texto publicado no Diário Económico em 2002!

por Luís Coimbra


«O Ministro Carmona Rodrigues afirmou ao “Expresso” (ed. 31 de Maio) que a Ota não era uma prioridade e que a Portela estava longe de atingir a sua capacidade máxima.

O Primeiro Ministro viria a reforçar estas ideias ao declarar ao “Público” (ed. de 3 de Junho) que a Portela representava uma “grande vantagem competitiva” para Lisboa. Tanto bastou para que o meu amigo Eng. João Cravinho viesse criticar aquilo que parecem ser os indícios de uma nova estratégia aeroportuária para o País, ao considerar o adiamento da construção da Ota um “desastre nacional” que poria até em risco a nossa “independência” em relação a Espanha (“DN” de 25 de Junho). Ora acontece que é do conhecimento generalizado da comunidade aeronáutica, que durante os Governos socialistas,
1) Nunca se realizaram estudos técnicos operacionais comparativos entre as duas principais hipóteses de localização - a Ota e Rio Frio - muito em especial quanto à possibilidade de operações simultâneas no sistema de pistas proposto para a Ota, local manifestamente inadequado à instalação de duas pistas paralelas separadas por 1700 metros. Ou seja, tecnicamente e em termos de capacidades estamos ainda quase no zero.

2) Tudo o que se fez foram estudos de “impacte ambiental” com as previsões de ruído a terem por base as ditas pistas paralelas, localizadas aliás em 1990 a pedido do então Secretário de Estado Falcão e Cunha e apenas para efeito de estudos comparados credíveis entre a Ota e Rio Frio.

3) Durante quatro anos – 4! – entre 1997 e 2001, nenhum técnico português com formação em concepção ou planeamento aeroportuários participou nesses estudos nem na elaboração de termos de referência para a elaboração de um Plano Director. A avalanche de “boys” tomou conta de tudo, até por vezes contra a opinião dos trabalhadores aeroportuários socialistas. Tomás Taveira chegou até a ser contratado como “grande especialista” de projectos de terminais de carga aérea!
4) As Companhias aéreas nunca foram tidas nem achadas, muito menos a Câmara de Lisboa então presidida pelo socialista João Soares; e o poder político nunca ligou nenhuma a questões pertinentes levantadas pelo Município (socialista) de Alenquer - a avaliar por diversas declarações públicas do seu Presidente Álvaro Pedro.

5) A Ota foi adoptada por uma simples Resolução de Conselho de Ministros, sem que em simultâneo qualquer decisão tivesse sido tomada quanto ao horizonte de encerramento (total ou não) da Portela ao tráfego.

6) Nenhum acesso rodo ou ferroviário ao Aeroporto da Ota foi cabalmente estudado: daí não admirar que só muito recentemente o traçado da A10 junto à Ota (e só por Sul!) tenha sido definido; e sobre o tal eixo ferroviário N-S de alta velocidade, ou a modernização da actual Linha do Norte nem vale a pena falar. Apesar de tudo o que aqui fica escrito, também conviria em abono da verdade referir que continuo a concordar com João Cravinho quando ele se refere à necessidade de consolidarmos uma estratégia “atlantista” para salvaguardar os nossos interesses no contexto Ibérico e Lusófono. Mas o Aeroporto da Portela tem potencialidades para se desenvolver com qualidade e baixos investimentos até ser atingida uma capacidade máxima da ordem dos 16 milhões de passageiros por ano (talvez lá para 2018-2020 segundo as mais recentes previsões internacionais). O Aeroporto da Ota poderá ser complementar à Portela, com taxas claramente diferenciadas mas simultaneamente salvaguardando-se os “direitos históricos” das Companhias que operam “dentro da Capital”, sejam elas nacionais ou estrangeiras. O actual projecto da Ota está assim muito bem adiado e de imediato deveria ser repensada a sua própria concepção técnica, ideia aliás publicamente já indiciada pelo actual Governo. A propósito: sabem os caros leitores que para termos um aeroporto na Ota capaz de processar 30 milhões de passageiros por ano, não são precisos – nem de longe nem de perto – os 600 milhões de contos de investimentos de que para aí se fala?»